Economia, política, e tempo

Adilson S. Proença
2 min readJun 15, 2019

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“A primeira lição da economia é a escassez: nunca há algo em quantidade suficiente para satisfazer todas as necessidades. A primeira lição da política é desconsiderar a primeira lição da economia”

— Thomas Sowell (economista estadunidense, 1930-)

Não leio tanto quanto eu gostaria, mas leio tanto quanto posso. A uma dúzia de meses de me formar em economia e há pouco mais de ano formado em relações internacionais, jamais eu tinha lido um livro tão lúcido e verdadeiro em suas observações sobre economia, política, e o tempo.

Tempo e política [1]

Política e economia diferem radicalmente na forma como ambas lidam com o fator tempo. Por exemplo, quando torna-se evidente que o preço dos bilhetes de -ônibus cobrado em um município é baixo demais para permitir que a frota de ônibus seja trocada à medida que ela se deteriora, o senso comum econômico sugere, no longo prazo, aumentar o preço dos bilhetes. Contudo, o político que se opor ao “injusto” aumento do preço dos bilhetes poderá ganhar os votos dos usuários daquele transporte público na próxima eleição. Além disso, já que não são todos os ônibus que vão se deteriorar imediatamente nem simultaneamente numa data futura, as consequências de se “frear” o aumento do preço do bilhete não vão aparecer todas de uma única vez, mas serão diluídas ao longo do tempo. Sem reparos e trocas adequados, talvez alguns anos se passem antes que um número suficiente de ônibus comece a quebrar ao ponto em que os usuários notem que parece haver, agora, filas maiores, menos ônibus, e mais atrasos.

No momento em que o transporte público no município torna-se tão ruim que os munícipes começam a se mudar da região, levando consigo os impostos, muitos anos certamente terão passado desde “o controverso caso do aumento injusto do preço do bilhete de ônibus”. Poucos se lembrarão do caso ou notarão qualquer conexão entre a controvérsia e o problema corrento dos ônibus deteriorados e atrasados. Enquanto isso, aquele(a) político(a) que, ao se opor ao aumento do preço do bilhete anos atrás, venceu as eleições municipais, e, agora, já galgou mais alguns degraus em sua carreira política, impulsionado(a) pela popularidade que o seu papel de “herói dos usuários de ônibus” lhe conferiu anos antes. Enquanto os impostos reduzidos daquele município causam a queda da qualidade dos serviços públicos e da infraestrutura, o “herói” dos usuários de ônibus pode até se gabar que as coisas nunca chegaram a esse ponto quando ele comanda o município. De praxe, acurará a administração incumbente pelos problemas “correntes”.

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[1] Uma tradução livre dos dois parágrafos da página 337. Quinta edição de “Basic Economics”.

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Adilson S. Proença

An International Relations degree holder; a language, history and economics aficionado; and a soon-to-be Economist who sees writing a thought-untangling act.