Por que a curva de Demanda Agregada tem inclinação negativa?

Adilson S. Proença
5 min readApr 3, 2020

O fator determinante do nível de preços em uma economia.

******************************************************************QUESTÃO 2 , cap. 33 | Mankiw’s Introduction to Economics (p.741)

Liste e explique as três razões pelas quais a curva da demanda agregada tem inclinação negativa.

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No Modelo de Oferta e Demanda Agregadas existe uma relação inversamente proporcional entre o nível geral de preços (P) e a curva de demanda agregada (DA). O que isso efetivamente significa é que aumentos em P podem levar a quedas em DA ou que reduções em P podem fomentar aumentos em DA. Essa dinâmica oposta entre essas duas variáveis, causada pelas oscilações em P, dá à DA uma inclinação negativa. As oscilações em P podem conjuntamente produzir três efeitos:o efeito riqueza, o efeito juros e o efeito câmbio.

Esses efeitos impactam a todos os agentes econômicos em uma economia. Dentro do Modelo de Oferta e Demanda Agregadas os agentes econômicos são os próprios componentes da demanda agregada: as famílias; o setor privado, o setor público e o setor externo . Em conjunto, esses agentes demandam bens e serviços de uma economia, e à medida que reagem inversamente às oscilações do nível de preços, as flutuações da demanda agregada acontecem, podendo levar a economia a períodos de recessão, por exemplo.

A demanda das famílias é expressa em “C”; a demanda do setor privado, expresso em “I”, representa seus investimentos; a demanda do setor público, “G”, é tudo aquilo que o governo gasta, desde investimentos em infraestrutura a pagamento de funcionários; e, por fim, a demanda do setor externo é a diferença entre, por exemplo, o que os países compram do Brasil (exportações brasileiras) e o que o Brasil compra do mundo (as importações brasileiras). Isso é expresso como “ XL”, ou exportações líquidas.

DA = C+ I + G + XL

Neste texto, à medida que detalho cada um desses efeitos, me esforçarei para pontuar qual agente econômico é mais diretamente impactado.

Efeito riqueza

Se hoje você paga R$ 10,00 por um bem ou serviço e em duas semanas você passa a pagar R$ 11,00 isso significa que você agora precisa usar 10% a mais da sua renda disponível para adquirir o mesmo bem ou serviço. A menos que sua renda nominal também aumente em 10%, você terá perdido 10% do seu poder de compra. Esse efeito de corrosão do poder de compra mediante a aumentos no nível geral de preços impacta a “riqueza” dos agentes econômicos, o que, por consequência, tende a levar o deslocamentos ao longo da curva de demanda agregada.

Com esse aumento de preço talvez você opte por consumir menos do bem ou serviço em questão ou simplesmente não consumi-lo. Agora aplique essa dinâmica à totalidade dos agentes econômicos em uma economia e o efeito “agregado” disso significa o deslocamentos ao longo da curva de demanda agregada (redução).

A perda do poder de compra afeta a todos os agentes econômicas, mas particularmente afeta o consumo das famílias ( C ). Na média, esse componente da demanda agregada representa mais da metade do PIB dos países. Assim, fatores que retraiam a demanda das famílias, como o efeito riqueza, representam grandes impactos de curto prazo para as economias.

Efeito juros

Em uma economia com nível geral de preços elevado os agentes econômicos demandarão mais moeda para compensar a perda do seu poder de compra. Essa demanda maior por dinheiro leva a um aumento da taxa de juro (que é uma típica ferramenta de política monetária aplicada pelos Bancos Centrais como forma de se conter o aumento do nível de preços na economia).

Com juro mais alto a captação de recursos para financiamentos e/ou investimentos do setor privado fica mais cara e isso pode tornar projetos do setor privado (um grande consumidor tomador de recursos) menos atrativos, bem como levar as famílias a postergar suas compras via financiamento. O efeito prático é, então, o deslocamentos à esquerda ao longo da curva de demanda agregada, dessa vez impulsionada também pelo setor privado, além das famílias.

Efeito câmbio

O aumento do nível geral de preços em uma economia também causa efeitos sobre a taxa de câmbio (quantas unidades de Real são necessárias para comprar uma unidade de Dólar estadunidense, por exemplo). Isso porque a elevação da taxa de juro — que ocorre em resposta à maior demanda por moeda em uma economia com nível de preços elevado — torna mais atrativos os investimentos no país para o capital externo que busca as maiores taxas de juros (porque taxas maiores representam maior remuneração).

À medida que aumenta a oferta de moeda estrangeira (o Dólar estadunidense, por exemplo) em relação à oferta de Reais no país, este último sofre uma apreciação em relação ao Dólar. O que se segue, então, é o encarecimento dos bens e serviços nacionais para os setor externo e a consequente queda das exportações. No lado das importações, verifica-se o aumento, uma vez que menos moedas locais são necessários para comprar uma unidade de moeda estrangeira.

Fundamentalmente tudo está relacionado à demanda por dinheiro na economia. Essa demanda por dinheiro, por sua vez, depende do nível de preços. Com os preços médios mais altos as pessoas perdem poder de compra (efeito riqueza) e, assim, demandam mais dinheiro. Essa demanda aquecida por mais dinheiro torna-o mais caro (efeito juro). O juro mais alto, por sua vez, impacta a taxa de câmbio, uma vez que juro mais altos atraem mais capital estrangeiro para o país. Em conjunto, esses três efeitos evidenciam a relação inversa que há entre o nível geral de preços e a curva da demanda agregada e, assim, o porquê de sua inclinação negativa.

Essa relação oposta fica bastante evidente na imagem que abre este texto (a curva da demanda agregada) e que re-disponibilizo abaixo. Observe como que alterações (aumento, P1 ou redução, P2) no nível de preços P reduz a quantidade demandada.

o autor.

Por fim, um adendo deve ser feito. É tentador associar a curva de demanda agregada à curva de demanda que se observa nos livros de microeconomia. A esse respeito, a seguinte distinção deve ser feita: a relação inversa que se observa entre P e Y é comum tanto às curvas de demandas de setores específicos (microeconomia) quando à macroeconomia. No mais, não se pode perder de vista que a demanda agregada diz respeito à economia como um todo e que reage segundo os três efeitos tocados neste texto (riqueza, juro e câmbio). As curvas de demanda da microeconomia, por sua vez, reagem às preferências dos consumidores, ao número de consumidores, aos preços de bens relativos (substitutos e complementares), à renda disponível dos consumidores, bem com às expectativas dos consumidores.

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Este texto faz parte de um esforço pessoal de se aprofundar nos estudos de economia, particularmente de macroeconomia. Tenho por base o livro-texto do professor Greg Mankiw (edição de 2008). A minha intenção é responder a tantas perguntas quantas eu puder. Irei compartilhar as respostas aqui, já que parece não haver disponível na internet as answer keys ao referido livro.

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Adilson S. Proença

An International Relations degree holder; a language, history and economics aficionado; and a soon-to-be Economist who sees writing a thought-untangling act.